No site de Eliane Brum (http://desacontecimentos.com/nomes/), surgiu o desafio: “Com o sonho de construir um museu vivo de nomes encarnados, Eliane convida vocês leitores a narrar as histórias de seus nomes e como convivem com eles.”
Como sou fã de Eliane, topei o desafio. E ontem, enquanto aguardava na sala de espera do médico, surgiu o ensaio.
Gostei de aprofundar em meu nome. Da palavra sinto-me surgir mais forte, agora que minhas letras atingiram sua forma menos rebuscada e mais constante, porém nunca definitiva.
O texto que se segue é a história que narrei e enviei ao site de Eliane. É o texto que divido agora com vocês, e os convido a fazerem o mesmo. Pois como diz Eliane, “o nome nos precede. E contém, de certo modo, a história que vem antes da gente”. Qual é a história com seu nome? O parto de um nome:
Meu nome nasceu no entrelaçamento de mãos de meus pais. Enquanto ainda era sonho, fui gerada em apelido: Dobinha, a filha da Dobi _ apelido carinhoso que o pai deu à mãe.
Um ano depois, já casados, o sonho tornou-se concreto nas contrações da quadragésima segunda semana de minha mãe; e vim ao mundo Fabíola, nome de princesa convertida, personagem título de um livro que meus pais leram em segredo um do outro, antes de se conhecerem. Por coincidência ou destino, grifaram o nome para usarem quando a hora permitisse. O tempo chegou me trazendo primeira numa família de três irmãos _ única mulher, única com nome de princesa mártir do Cristianismo (o título poderia ter sido um fardo, mas nunca dei importância a isso…)
Cresci percebendo com certa estranheza que carregava um nome raro, por vezes difícil de ser escrito ou pronunciado. Desde muito cedo me habituei a auxiliar a grafia, do cartório à conta da padaria, repetindo com certo orgulho: “Escreve-se com ‘O’ e acentua-se o ‘Í’…”
Nunca houve outra Fabíola pra dividir a antecedência através do sobrenome na chamada de classe. Também não encontrei nenhuma nos corredores do trabalho ou academia de ginástica. Vez ou outra esbarro em alguma, mas a ausência de repetições me apazigua. Me traz o conforto de perceber-me única.
Eu, que demorei tanto para separar-me da Claudete, minha mãe, e gerar-me independente, hoje valorizo cada letra do nome que me definiu tão cedo, mas que tem ganhado contornos mais simples e certeiros só agora, em minha narrativa madura, mais constante e menos consoante.
Ao primeiro nome somaram-se os sobrenomes, e não diminuí nenhum ao arrematar o ponto final com o Lopes, que herdei da família espanhola de meu marido, há treze anos. Me assumi também Lopes, sem deixar de ser Brito ou Simões. Segundo as palavras de Mia Couto: “família não é coisa que exista em porções. Ou é toda ou não é nada”.
Porém, ao ingressar naquilo que hoje também me define _ escrever_ quis assumir-me apenas Simões. Se escolhi o “Simões” acima do “Brito” ou do “Lopes” foi porque esse lado da família ( herdado de minha mãe) me pareceu o mais artístico, cigano, e talvez o maior responsável por pulsar tanta sensibilidade em minhas veias. Imagino que lá atrás tenhamos sido artistas mambembes, saltimbancos ou donos de picadeiro; não conheço a trajetória e por isso deixo o pensamento voar. Tenho assinado mais Simões desde então.
E lembro meu avô: O Simões da bengala e pão ‘Câmbio Negro’. O Simões da Bíblia aberta e jogos de xadrez. O Simões do caráter inabalável e olhar certeiro. O Simões centenário, da barbearia e dos três casamentos. O Simões que enviuvou três vezes, e gerou minha mãe como a filha derradeira da último união. É esse Simões que trago comigo. O Simões da Dona Conceição, o homem que não comia enquanto todos não estivessem servidos.
Já não sei contar tantas histórias do Vô ( mais vô que vovô) Simões _ era muito idoso quando me fiz Fabíola_ mas de uma forma que não sei explicar, é o sobrenome que escolhi sustentar, e que hoje me define também.
Se fui gerada apelido, hoje firmo minha assinatura com mais vogais que consoantes, e gosto da forma redonda que ela toma, menos aguda com o passar do tempo, apesar do acento que teima em se manter no meio da palavra. É assim que quero ser: redonda, sem arestas, com mais consistência e maior consciência de mim. Carregando o legado dos Simões, dos Britos; e por convivência, dos Lopes.
Assim existo, sendo filha do Jarbas de Brito e Claudete Simões, esposa do Luiz Lopes e mãe do Bernardo, que é Simões, Brito e Lopes, como eu.Porém, acima de tudo, sou as letras e acentos que compõem e costuram a narrativa única que escrevo de próprio punho, tentando _em vão _ segurar os vapores do tempo de minha própria existência.
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Que legal, Fabíola! O que mais me chamou a atenção foi a parte do orgulho em auxiliar a grafia. Meu nome com S, LL e E no final, podes imaginar o quanto isso também faz parte do meu cotidiano, né... Eu sempre via isso como um problema, quebrasses meu pré-conceito e me colocasses a pensar a respeito. Obrigada!
E olha a coincidência, eu publiquei no blog que gerencio justamente sobre coisas a se pensar para escolher o nome de um filho. Sem certo e errado, só elementos para pensar. Se tiveres interesse, o endereço é http://minigente.com.br/nomes-de-bebe/
Beijo e parabéns pelo blog. Vejo bastante!
Giselle com "S" e dois "LLs"!!! Que delícia de comentário! Que bom que gostou... acho que vou lembrar bastante de vc quando tiver que auxiliar a grafia novamente rs! Vou visitar sua página sim! Com calma irei e deixo meu recado por lá tb! Obrigada pela visita, adorei! Bjs!!!
Gostei do retrospecto que flui poeticamente... Beijos do pai, que te ama muito.