Esse post foi inspirado no modelo do blog da Fernanda Gentil  (que é hilário e vale a pena conferir, link clicando aqui ) Imagens: Google

Uma vez ouvi uma história que ficou comigo até uns dias atrás, quando revivi uma situação incômoda e relembrei o caso: havia uma senhorinha, avó de uma grande amiga, que sempre teve vontade de cortar o cabelo, mas não cortava de jeito nenhum porque o marido não deixava. Somente após ficar viúva, já bem idosa, pôde experimentar aquilo que desejava. Ainda durante o luto, cortou-os bem curtinhos e pôde usufruir de mais alguns anos do jeito que bem entendia.
Porém, será que a figura do marido não representava uma censura que ela mesmo se impunha? Um álibi para as prisões que ela mesmo construía?
E nós, será que precisamos esperar tanto para vivenciarmos aquilo que realmente nos define?
Por que de vez em quando é tão difícil assumirmos quem realmente somos?
Como a senhorinha, colocamos uma boa dose de imaginação na nossa história. E como colocamos…

Quando eu era mais nova, meu pai criticava quem colocasse sal na comida. Por saber dos riscos (pressão alta, etc), ele não tolerava esse costume. Então, durante toda a minha vida, não coloquei sal (na salada, na pipoca, no ovo, no milho cozido…) na frente dele. Mas só na frente dele. Porque era só virar as costas… que o sal corria solto…

Eu MORRIA de medo dele saber disso. Mas um dia pensei: “Quer saber? Cansei!” e então, cheia de coragem ( juro, foi preciso MUITA coragem!), confessei isso na maior cara de pau. Tcham, tcham, tcham, tcham!!!!!!

Sabe o que ele disse? “Puxa, não sabia! Eu só estava preocupado com vocês”. Quase desmaiei. Juro. Porque teria me poupado anos de apreensão, medo e tortura se soubesse, se simplesmente tentasse transgredir as regras. Na verdade, quem colocou o limite fui eu mesma. Eu e minha perfeição. Eu e minha obediência. Eu e minha des- liberdade (inventei essa palavra agora).

Outra história:
Quando eu era adolescente, beirando os quinze, lembro de minha mãe me acordando no meio da noite, assustada, para dizer que meus irmãos tinham saído e ainda não haviam voltado para casa.

 Eu acordava mais ou menos assim:

Então ela sentava na minha cama, falava de seus medos, rezava junto comigo e aparentava estar muito, muito brava com os meninos. Eu tinha poucos recursos para acalmá-la nessa época, mas lembro de participar, solidária, de sua ansiedade e ficar muito, muito brava com meus irmãos também.

Não lembro se corriam horas ou minutos, mas o fato é que eu ficava com bastante raiva dos meninos por desaparecerem na noite (sem saber que anos mais tarde eu adoraria fazer o mesmo), e assim atrapalharem meu sono, interrompido pela angústia de mamãe.

Porém, para minha surpresa, quando eles finalmente voltavam para casa _ despreocupados, são e salvos_ ela corria para abraça-los como se tivessem acabado de retornar da guerra do Golfo; enquanto eu, muito brava, me punha a ralhar como uma velha ranzinza.
ELA: 

EU:

Só pra finalizar, minha mãe me olhava com aquela expressão: “Chega”, e eu ainda era capaz de me sentir culpada por tentar ‘defendê-la…
Olhar dela para mim:

No fundo me sentia o próprio filho certinho da “parábola do filho pródigo”que se indigna com o pai que faz festa para o irmão desencanado e esperto. (Alguém me explica a virtude desse cara além da capacidade de se dar bem?)

Bom, o fato é que a gente cresce e aprende. E eu me arrependo de não ter sido mais sabida naquela época…

MANEIRAS DE TER SIDO MAIS SABIDA NAQUELA ÉPOCA:

1)- Fingir que dormia profundamente…

2)- Estar na balada também…

3)- Pedir delicadamente para mamãe acordar o papai _ e não eu _ e com ele decidir essa questão.

4) Fazer como a Mafalda:

O que eu quero dizer é que ás vezes a gente não vive direito porque tem medo de decepcionar algumas pessoas. Porém, mais tarde, percebemos que quem deu a medida para esse medo fomos nós mesmos. E percebemos que nos exigimos demais só para agradar.

Agradar quem não pediu tanto agrado.
Agradar quem nem está percebendo tanta bajulação ( e nem vai ser proporcionalmente grato por isso _ com toda razão)
Agradar quem nem vai morrer de desgosto se a gente deixar de agradar…

Porém, mesmo entendendo tudo isso, velhos padrões são difíceis de serem abandonados. E é sempre um esforço manter a autenticidade quando nos acostumamos com os papéis que desempenhamos.
Papéis que não nos representam plenamente, mas que são uma projeção daquilo que achamos que esperam de nós. 
Porém, não há bode expiatório que justifique as prisões que nós mesmos criamos. Por isso é importante DAR LIMITES.

E mostrar quem somos realmente. Porque sem autenticidade, confundimos muita gente por aí…

 Ao agirmos como craques, somos cobrados como craques também…

ESPERAMOS MUITO MAIS DELE:

DO QUE DELE:

Mas antes de nos refugiarmos no papel de vítima, volto a esclarecer:
Tudo são ESCOLHAS, ok?
E ser o craque tem suas vantagens também, senão o Neymar não gostaria de fazer tanto sucesso, não é?

Mas o fato é que todo craque se aposenta também. Pendura as chuteiras. Sai de cena. Cansa.

Porém, existe uma linha muito tênue entre o egoísta e aquele que deseja ser mais amoroso consigo, mais ciente de seus limites e capaz de suportar suas imperfeições e principalmente capaz de dizer “não” para aquilo que não está ao seu alcance.

QUEM NUNCA PASSOU POR ISSO?

Mas a gente não precisa continuar fingindo que está tudo bem, não é? Nem esperar tanto quanto a senhorinha do começo desse post para assumir quem somos realmente.
Então vem cá que vou lhe confessar alguns segredos:


 Não gosto que pisem de sapato no meu sofá (“isso é fácil”, você dirá, “ninguém gosta e além do mais é falta de educação”…)
Sim, mas tem muitas outras coisas que são falta de educação e a gente vai permitindo só porque é incapaz de colocar limites, sabe?
Das coisas que gosto: Gosto de cores intensas, mas também adoro um pretinho básico, um bege, um nude ou cru; também gosto de colocar sal no ovo, na pipoca e na salada; gosto do meu cabelo do jeito que é, cheio de fases; de ter tempo de pensar e não ter que responder as questões no ato, na impulsividade, revelando mais espinhos do que eu gostaria (acho que isso significa gostar de respeito, privacidade, não ser atropelada, esse tipo de coisa, não é?)

Gosto de fazer as coisas por amor, e não por imposição (e posso transbordar amor se não for cobrada…)

Também gosto de ficar sozinha de vez em quando e de não atender o telefone quando não estou a fim.

Mais uma coisa: Sei que passei a impressão errada, mas queria desfazer o mal entendido.

 SOU MENOS ASSIM:

DO QUE ASSIM:

Então finaliza aí:
Desejando me libertar de certas projeções que acatei durante a vida, hoje publico esse post. Como um ato de rebeldia, ou talvez liberdade . Querendo ou não, essa é a que sou. E tenho que aprender a me aceitar também, a me aceitar com todos meus defeitos e limites.

HOJE FIZ COMO ELA:

Ao clicar em ‘publicar’, sei que não haverá volta. E agora assino meu nome embaixo…
FABÍOLA SIMÕES

Fabíola Simões

Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

View Comments

  • Ma-ra-vi-lha!!!! Amei o texto, as imagens! É tudo o que eu gostaria de escrever, mesmo. Parabéns!

  • Parabéns pelo seu texto, não é o primeiro que leio mas é o primeiro que comento. Vc passa em suas palavras todas as emoções que um bom texto necessita. Fiquei bem emocionada e feliz em ler, pq é assim mesmo, a gente se esforça achando que o outro quer ser agradado e terminamos tristes pq o outro nunca pretendeu isso de nós. E logicamente como vc mesma citou, não vai agradecer e muito menos corresponder, claro...não pediu nada. E nós por essa expectativa criada dentro da nossa cabeça, ficamos magoadas e deixamos de fazer o que realmente queremos. Está certíssima. Obrigada pela maravilhosa leitura! Bjs!

  • Olá simplesmentefluir! Obrigada! Que bom que gostou e veio aqui comentar... Fui visitar seu blog e gostei muito, vou deixar um recado por lá tb!!! Mais uma vez, obrigada! Bjs!!!

  • Olá anônimo! Obrigada por me visitar e por esse comentário que hoje torna-se muito especial para mim; pois escrever esse post, apesar das imagens bem humoradas, não foi fácil... Eu publiquei, mas aquela sensaçãozinha incômoda de culpa, de ainda não ter segurança do meu lugar, veio me assombrar. Ler seu comentário e perceber que passei a mensagem certa para quem lê, me deixou mais tranquila e feliz... Obrigada!!! Bjs!!!

  • Eu que fico feliz em receber uma resposta sua, é muito bom qdo recebemos feedback. Também gosto de escrever, mas sem dúvida ainda tenho muito que aprender e ler seus textos me ajuda bastante tb nisso. Se puder aceitar um conselho, não deixe de lado o humor, é muito bom lermos algo bem humorado quando bem colocado no texto. E a indecisão faz parte, eu gosto de me ler, mas já me peguei querendo apagar o que escrevi pois sou de colocar muita intensidade em tudo e quando dei o enviar foi como vc citou e que adorei: "Ao clicar em 'publicar', sei que não haverá volta. E agora assino meu nome embaixo..." Mas não precisamos ter receio de nada, sempre alguém vai se identificar, unanimidade é muito difícil e bem chatinha tb. Emoção é tudo! rs Parabéns, assine sem medo de mostrar quem vc é e sempre que puder darei uma olhadinha por aqui. Bjs!

  • Oi Fabíola, conheci hoje seus posts, pelo Face. De tanto que gostei, cheguei no Blog.
    Muito bom!!!!!!
    Compartilhei frases suas, citando seu nome, é claro.
    Tudo de bom pra você e sua família, super beijo. Vamos nos falando e aprendendo por esse mundo cibernético.... Vanessa

  • Fabíola, agora eu fico esperando um livro, crônicas com este nível de qualidade, precisam e merecem um livro, vou ficar torcendo e curtindo duplamente!! Bjs.
    ( Ludika Lua, Espaço de Vivência Pedagógica) e Núbia Rodrigues Lima

  • Gostei muito do seu texto. Eu, você e muitas outras pessoas passam ou já passaram pelo mesmo dilema. Mas nem todos sabem expressar como você.

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