Começaram as comemorações. Os amigos do tempo de faculdade e outros, nascidos em 74, que me acompanhem no brinde a essa data simbólica que, dizem por aí, assinala um novo tempo.
Sábado passado nos reunimos em Limeira, interior de São Paulo, para a festa de um amigo. Alguns deixaram as crianças em casa, outros vieram sozinhos, mas grande parte da “turminha” compareceu. Brindamos, dançamos, dissemos e ouvimos muitas vezes: “Como você está bem”!, mas sabemos que não somos os mesmos da Alfenas de 1992, ano em que a vida começava realmente.Ao contrário do slogan “A vida começa aos quarenta”, meu divisor de águas foi aquele início de ano letivo, na faculdade, em 92. Ali reinventei minha história, mudei o rumo de antigas aflições, superei minha inadequação. Com dezessete ou dezoito, me descobri dona de inúmeras possibilidades e responsável pelo bem ou mal que me aconteceria. Ainda que só tenha adquirido essa noção muito depois, minhas atitudes deixavam claro o desejo de me reinventar.Sábado passado, enquanto a banda tocava algum sucesso que agora não me recordo, numa conversa animada com duas amigas, alguns fatos que antecederam 1992 vieram à tona através dos olhos de uma pessoa querida, testemunha do tempo na cidade em que nascemos. Naquela época não se falava em bullying ou coisa parecida, mas a gente sabia o que acontecia a quem não se enquadrava. E nessa linha invisível que define os mundos, algo semelhante assinalou meus anos de colegial _ hoje, ensino médio. Sábado, conversando com essas amigas lembrei, com certo pesar, o que já tinha esquecido de lembrar. Mas ainda assim, parte da minha história. E principalmente, parte daquilo que me tornei.
Às vezes, uma história ruim é o gatilho para os bons enredos que estão por vir. E por mais que se lamente o que aconteceu, a liberdade _ e responsabilidade_ de virar a página cabe somente a nós.
Não me ressinto daqueles que na época me julgaram menor do que eu realmente era. Talvez eu fosse mesmo, por não me posicionar adequadamente diante da vida e das pessoas. Mas talvez, exatamente por isso, eu tenha entendido que reconhecer e revindicar meu verdadeiro papel ou lugar na minha própria história despenderia empenho.
Empenho de sair de uma existência nublada e mostrar-me em cores vivas, feito Frida Kahlo; disposição para romper o vício de uma bondade explícita mas com muito pouca tolerância interna e revelar-me imperfeita, mas inteira.
Encarar minha timidez foi desatar o primeiro nó que me impediria de viver por inteiro os primeiros anos de faculdade. Hoje, lidar com minha liberdade e ter a consciência de que sou totalmente responsável por tudo o que se refere a mim, incluindo aquilo que _ principalmente_ me afeta ou incomoda, é o que me desafia. Pois cabe a nós dar remédio àquilo que nos dói. Não há culpa nem culpados, apenas situações que permitimos ou não que aconteçam.
Se a vida começou aos dezoito, ela se desenrolou nesses mais de vinte anos que se seguiram. Hoje, mais amadurecidos e cheios de memórias, nossos nós são outros. E desatá-los um a um se torna imprescindível para que a vida continue da melhor maneira possível a partir de agora, que chegamos aos quarenta.
Talvez seja essa uma idade de balanço. De entender e perdoar o passado e prosseguir sem muito drama ou culpa _ “mimimi”_ como dizem por aí. De ser conhecedora de meus anjos e demônios e lidar com eles, sem o risco de favorecer um ou outro em detrimento de mim mesma. De recusar qualquer depreciação desnecessária e estar aberta aos elogios sinceros; de reconhecer os milagres e bençãos; de perceber a matéria volátil que é feita a vida e assim mergulhar profundamente na paisagem presente; de ousar, agora que já conheço alguns caminhos_ bons ou ruins_ dando permissão ao inesperado; de estar mais a vontade com a singularidade de que sou feita, recusando qualquer caractere que não me defina, negando pertencer por pertencer ao padrão vigente ou exigente. De aceitar minhas perdas como parte do jogo, ganhando com elas também. De enxergar com mais lucidez e menos critério, descobrindo a vida além da superfície ou do que é visível. Acima de tudo, desconstruindo certezas e sendo mais honesta com aquilo que realmente sinto. Talvez buscando uma vida de menos identidade e mais coerência.
Se aos dezoito descobri que precisava de empenho para me posicionar perante minha própria história, hoje, próxima dos quarenta, descubro que viver uma vida responsável _ e portanto livre_ requer o dobro de esforço.
Pois desacomodar-se requer movimento. E crescer exige rupturas.
Ruptura com modelos que associamos ao que somos, mas que nos limitam e impedem que sejamos o que ainda podemos vir a ser. Ruptura com o olhar aniquilador que não nos redime nem autoriza viver uma vida inteira, longe de tabus que nos afastam daquilo que tem capacidade de nos enriquecer.
Já que a vida não começa aos quarenta, que ela seja narrada da melhor forma possível a partir de agora, em que foram decifradas a maioria das charadas, e descobertos os diversos caminhos.
Que possamos ser verdadeiros, pois o tempo das desculpas deve ter ficado pra trás, junto com as inseguranças e dúvidas. Que consigamos, acima de tudo, escolher olhar para nós mesmos com mais amor.
Pois é esse olhar amoroso que nos permitirá seguir adiante, sem lastimar o passado, mas dando uma grande chance ao futuro.
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Parabéns, seus textos são muito bons!
Olá Fabiola, estava aqui na internet, procurando bons blog's e encontrei o seu. Parabéns por ele, estou gostando muito. Este texto é maravilhoso, o amadurecimento é bem isso mesmo, fala de nossas inseguranças, nossa impraticável ação de sermos perfeitos e por fim uma redenção de que podemos ser nós mesmos.
"Quem cresce demais acaba não alcançando seu próprio centro." (frase de minha autoria)
Muito bom mesmo, estarei voltando aqui. Visite também meu blog, ele se chama 'Um lugar para estar'. eis o endereço: http://umlugarparaestar.blogspot.com.br/
Excelente tarde a vc e a seus leitores!!
Nunca imaginei que pudesse me identificar tanto com os seus textos_totalmente EU!!! Adorando seguir o seu blog...
Boa noite querida! Mais um texto que amei ler! Perfeito! Mil beijos!