De uns tempos pra cá, não sei se devido ao passar da idade, tenho ouvido mais e mais comentários, matérias e debates sobre rejuvenescimento, plástica e beleza_ não aquela natural a que todos temos direito, mas beleza fabricada, exigida, manipulada, conquistada(?)_ e me pergunto onde foi parar a diversidade, o que fazia de cada um o protagonista de seu tipo físico, ou pelo menos mantinha em seu devido lugar o estilo pessoal e único de cada corpo, estrutura e rosto.

Se não admitimos as marcas daquilo que vivemos _ alegrias no bigode chinês, o susto com o tombo do menino nas têmporas, a traição no meio da testa, tantas saudades nas bolsas abaixo dos olhos, uma coleção de bons acontecimentos no franzido acima do nariz, a derrota do timão no vinco entre as sobrancelhas _ como autorizar que a bossa, a naturalidade, o charme e o que é mais verdadeiro permaneça em nós? Se negamos o direito dos acontecimentos nos marcarem, como permitiremos que nosso sorriso, ou mais ainda, nosso olhar, carregue aquilo que um dia fomos?

Se pudesse dar apenas um palpite, levando em conta a geografia singular que, feliz ou infelizmente, herdamos de nossos pais, e sem querer modificar aquilo que torna cada um protagonista de seu próprio tipo físico, recomendaria um investimento simples, acessível, de baixo custo e principalmente, infalível: Use fio dental, invista numa boa escova de dentes de cabeça pequena e abuse do trio creme, escova e fio.

Os benefícios a longo prazo vão além de um sorriso “Bond”. Mas acredite, isso também será importante no futuro, quando o tempo invariavelmente levar embora o viço, a firmeza e o frescor da juventude.

Seja gentil com suas gengivas. Elas são o alicerce dessas pecinhas brancas que dão estrutura à face, sustentam a maxila e melhoram o contorno do rosto.

Apenas por um tempo esqueça a moda dos peelings, esfoliações, liftings e botox. Desfrute de sua própria natureza, reveja fotos em que aparece sorrindo e não reclame do orçamento no dentista. Entenda que essas pérolas precisam de manutenção, e podem ser mais eficazes na beleza e rejuvenescimento que qualquer preenchimento de lábios que porventura cogite fazer.

Tome café, beba um cálice de vinho no jantar, não recuse o brigadeiro do aniversário do sobrinho _ o que seria da vida sem esses agrados?_ mas habitue-se a valorizar o brilho dos seus incisivos, a sustentação óssea que uma arcada completa proporciona, a juventude permanente da alegria sem disfarces.
Desaprendemos a investir naquilo que é seguro e eterno. De tanto buscar fórmulas que prometem trazer de volta o frescor de ontem, nos esquecemos do presente que temos bem ao alcance das próprias mãos, e preferimos cortar, esfoliar e retalhar que simplesmente escovar.

Talvez você amadureça com saúde, talvez não. Mas confie em mim: cuide de seus dentes. Eles são a fachada do rosto, os alicerces da face, os recepcionistas de sua saúde como um todo. E dizem muito mais sobre você do que poderia supor.

Não se ressinta da falta de sorte se as perdas ocorreram precocemente. Busque soluções, procure alternativas viáveis ao seu bolso, economize e aprenda: cuidar dos dentes não é luxo nem superficialidade; é, antes de tudo, saúde e cuidado.

Trabalhando como dentista num posto de saúde da prefeitura de Campinas há dezessete anos, cumprindo trinta e seis horas semanais na função de endodontista, me deparo diariamente com pacientes dispostos a extrair os dentes em vez de tratá-los. É frustrante perceber que nosso povo ainda não aprendeu a valorizar uma boca saudável, íntegra – ainda que com obturações_, sem falhas. Muitos permanecem apelando pra fórmula mágica e mutilante: extrair tudo e colocar a famosa “chapa”. Devagar esclareço, tento convencer o paciente, mas algumas vezes me dou por vencida. Infelizmente “nosso povo carece de saúde”, como disse Everaldo, nosso orador, na formatura da turma de 1995. Carecia naquela época, carece hoje. Carece de saúde física e psíquica. Carece de cultura, informação e apoio.

Enquanto a marca de celular, tênis ou camisa polo for mais importante que cuidar dos dentes, nossa população continuará envelhecendo sem saúde. Continuará envelhecendo acreditando que ter a pele esticada, preenchida, costurada e flagelada por procedimentos estéticos é mais importante que ter músculos faciais amparados por uma estrutura de dentes íntegros e gengivas saudáveis.

Façamos um trato. O de aceitar a passagem do tempo como algo natural, e não aquilo que devemos combater. Que possamos envelhecer com saúde, ainda que essa seja uma experiência dura, que denuncia uma diminuição da velocidade e um aumento das memórias e saudades. Temos saudade da imagem refletida no espelho, e esquecemos que ainda estamos lá.

Talvez o olhar seja o mesmo. Talvez, e com sorte, os dentes também.
Então preserve sua geografia, cuide das pérolas que encontrar. Reponha as peças faltantes e sorria. Não perca tempo com comparações mas busque força na alegria.

Nunca será tarde demais para começar.
A vida começa quando você se cuida.

Fabíola Simões

Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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