Adoro mês de junho. Adoro principalmente por causa das festas juninas, da noite iluminada por uma fogueira, de tomar vinho quente, mandar correio elegante (ainda existe?), assistir às quadrilhas, jogar bingo com as senhorinhas, lembrar das prendas do meu tempo de menina – frango assado do mercadão, cartucho de doces da quitanda do Seu Juraci, pés de moleque de Piranguinho.
Confesso: Eu gosto de quadrilha. Mais do que assistir, gosto de dançar quadrilha. E quando tem sanfoneiro, com a gente alegrinho de tanto quentão e vinho quente, é tudo de bom. A última que dancei foi no quintal da minha tia, com todo mundo a caráter e alguém, que agora não me lembro quem, dando os comandos pra formação do processo todo.
Então… Curto muito o caracol. É sério. Gosto da bagunça que se forma, do entulhamento de gente que vai circulando e parece que não vai desatar e depois, com calma, vai dissolvendo, retornando, desatando. Gosto do retorno. Da sensação que a dança cria e nos dá a certeza de que irá continuar após todo o caos. De que será passageiro. De que daqui a pouco aquele aperto se dissolverá e vamos rever os mesmos rostos, as mesmas faces, de um jeito melhor, mais solto, fácil e leve. É a certeza dessa possibilidade que nos mantém dançando, sem soltar as mãos, rumo ao enovelamento e desenovelamento.
Daí que a gente não é mais criança, e no dia seguinte está sóbrio de novo, e de repente acorda e percebe que está no centro do caracol. Ou que saiu fora dele e está mais frouxo diante da vida, dos acontecimentos, das pessoas.
Só que estar fora do centro não quer dizer que pode soltar as mãos. Você tem que terminar o processo todo, e isso implica reencontrar aqueles rostos que cruzaram com você na primeira volta, e agora retornam num momento de mais leveza e disponibilidade.
O que acredito é que na mesma vida temos a possibilidade de reencontros para finalização de alguns ciclos. Nem sempre os reencontros são com as mesmas pessoas. Podem ser vivências que voltam pra te ensinar num momento em que você está mais preparado para lidar com elas. Estar pronto pode levar algum tempo, mas você tem que aceitar essa nova chance_ quem sabe camuflada de nova dor_ para crescer.
Aquilo que foi muito duro pra você da primeira vez, que causou tanta dor que lhe fez negar pra sobreviver; aquilo que você fingiu que não aconteceu e seguiu parecendo forte; o relacionamento que te arrasou e de alguma forma lhe transformou ou criou uma blindagem; uma perda muito dura; uma traição muito grande: uma decepção sem limites; a amputação de uma parte _ física ou não; a incapacidade de se entregar, de amar; a falta de coragem de se declarar; os afetos mal resolvidos; as relações incompletas; a ausência que você causou ou nunca conseguiu superar; o perdão negado.
De repente, num dia de sol, sem muito o que fazer ou pensar, a vida promove o reencontro com sua própria história _ o caracol se abrindo_ e lhe dá novas oportunidades de lidar com aquilo que lhe foi mais duro, difícil e caro.
Coincidências não existem. Encare isso como prova de fé, de reconciliação, até de justiça ou mesmo sorte. São providências _ divinas_ para fechar ciclos. Nem sempre com os mesmos atores coadjuvantes, mas certamente com você no papel principal.
Eu disse que gosto do caracol. Durante anos achei esquisito que ele terminasse na grande roda, e ficava um pouco constrangida nessa parte. Mas agora entendo e aceito. Porque no fim, o importante é que tudo termine numa Grande Roda mesmo; pois tenho aprendido _ a duras penas, confesso_ que agregar é melhor que segregar. E que a gente fica mais leve quando faz as pazes com a própria história, quando decide revisitar baús secretos, quando tem sensibilidade para enxergar a vida passando de novo por nós…
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na verdade é dia de festa se:
... hoje eu acordei
Com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho
E desejar bom dia
De beijar o português
Da padaria
mas há dias longos na vida que se pede ao enviador dos bilhetes apenas um: devolva-me (A.C)
Caro (a) A.C: Adorei... principalmente o final...
Boa mensagem...
Eliot disse:
"Não deixaremos de explorar e, ao término da nossa exploração deveremos chegar ao ponto de partida e conhecer esse lugar pela primeira vez." Não cansemos de recomeçar...