Não sei de onde vem a ideia de que a vida deveria ser um presente de grife, embrulhado em papel de seda, ornamentado com laço de cetim.
Sem querer ser pessimista, prefiro acreditar na vida como um presente gratuito, com cheirinho familiar, embrulhado em papel pardo e barbante, de sabor conhecido.
“Era só isso?” _ Sim, só isso.
Existe sabedoria na descoberta de que tudo é imperfeito e trivial.
Quando fazemos as pazes com a imperfeição dos dias, das pessoas, de nós mesmos… deixamos de estar insatisfeitos; enfim relaxamos e aprendemos a contemplar o presente.
Quem acreditou que o “só isso” não bastaria, comprou a falsa ideia de felicidade, a felicidade plastificada que só funciona no photoshop, mas que não é definitiva nem palpável.
Altos e baixos hão de vir, mas o restante é simples. O restante é modesto. A maioria dos dias é comum, familiar, gratuito _ feito papel pardo atado com barbante.
Almejando exclusivamente nossos “finais felizes”, deixamos de aproveitar a viagem.
Imaginando a vida como um projeto de fortes emoções, beijos apaixonantes, música tema de fundo… deixamos de ter alegria naquilo que é.
Simplesmente é.
A exigência da felicidade tornou-se causa de infelicidade. Porque vivemos esperando, buscando, desejando… e esquecemos de usufruir.
Usufruir o presente, a paz acolhedora que nos reconcilia com a vida e suas possibilidades, o cotidiano do trânsito caótico, contas a pagar… mas também de cheiro do filho, elogio gratuito, pôr do sol visto da janela do carro, beijo de boa noite, fim de semana no campo, chuva molhando a grama, abraço acolhedor.
Vivemos esperando por dias melhores e esquecemos de admirar nossas conquistas diárias, aquilo que é possível _ “só isso”.
Quando paramos de desejar o inatingível, de nos iludir com a grama do vizinho e tanta propaganda enganosa … finalmente amamos mais.
Amamos nosso dia a dia cheio de altos e baixos; nossos afetos conquistados e nem sempre perfeitos; nosso trabalho cansativo que garante nosso sustento; nossa realidade imperfeita e tão particular.
Sofremos porque imaginamos a vida como algo que não temos. Ao desejarmos a lua cheia deixamos de admirar a suavidade da minguante…
Sem querer, desprezamos nossas conquistas, imaginando haver um pote de ouro além do arco íris ou “50 tons de cinza” além daqueles que conhecemos tão bem _ nosso delicioso feijão com arroz.
De tanto desejar, cortejamos a falta, a insatisfação, o buraco interior que nos faz infelizes enquanto alimentamos a ilusão de estarmos vivos e em movimento.
E não percebemos que o que dá sentido à vida não é a busca e sim o encontro, o admitir-se pronto, inteiro, completo _ e também imperfeito e simples.
Enquanto vivermos de expectativas sempre haverá a possibilidade de nos frustrarmos.
Mas isso também é uma escolha, uma opção. Como no verso de Drummond:
“A dor é inevitável, o sofrimento é opcional…”
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Nunca estamos satisfeitos, e quando deveríamos estar, estamos novamente a procura de algo.
A busca pelo prazer imediato, principalmente nos dias atuais, tem minado a capacidade das pessoas de se satisfazerem com suas conquistas; de entenderem que o desejo é bem vindo, mas não somente como satisfação imediata, e sim como uma aquisição que deve ser aproveitada, contemplada, vivida.
Gosto de uma frase do Pe. Fábio de Melo que diz: "As pessoas se esmeram por buscar atalhos, porque não há disposição para trilhar a estrada mais longa, ainda que seja repleta de belezas e surpresas"
Eu sinto como se você, através de seus textos, conseguisse extrair o que há de mais profundo em mim. Como se falasse de tudo aquilo que eu gostaria de dizer mas nunca disse, como se exteriorizasse todas as minhas percepções, verbalizando o que eu sinto e não consigo estruturar em palavras. Estou apaixonada por seus textos! Parabéns por conseguir ver o mundo e as coisas com tal sensibilidade.
A pior coisa é viver de expectativas. Um dia aprendo.
Olá Ávilly! Que bom que se identifica, que bom que de alguma forma andamos juntas! Obrigada pela visita e pelo carinho! Bjs!
Um dia todos nós aprendemos! Abçs!!!
Tenho dedicado meu tempo vago em ler-lhe, Fabíola. Que grande investimento!
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